Guararapes amplia margens e tem condições de acelerar abertura de lojas, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, André Farber atribui a melhora nos resultados operacionais à ‘obsessão’ em produto com preço acessível e destaca a marca de sete trimestres seguidos de expansão apesar de cenário macro e concorrência asiática

Loja da Riachuelo, que faz parte da Guararapes, em shopping (Foto: Divulgação)
11 de Junho, 2025 | 05:12 AM

Bloomberg Línea — O mercado brasileiro de varejo de moda é altamente competitivo, com a disputa de grandes empresas nacionais e a crescente presença de plataformas asiáticas.

Nesse cenário, o Grupo Guararapes (GUAR3), controlador da Riachuelo, tem conseguido acelerar o crescimento com uma estratégia focada em desenvolvimento de produtos, cadeia integrada e expansão seletiva. Mas que deve acelerar.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da Guararapes, André Farber, indicou que a empresa está confiante na sua proposta de valor e planeja continuar com a expansão de suas operações em 2025.

“A obsessão pelo produto é fundamental para nossa estratégia. Buscamos oferecer tudo que atenda às necessidades dos clientes, o melhor, que gere desejo, mas seja democrático e acessível”, disse o executivo, que anteriormente comandou a plataforma online Dafiti e assumiu o cargo em maio de 2023.

Nos shopping centers, os principais concorrentes da Riachuelo são varejistas de moda como C&A (CEAB3) e Lojas Renner (LREN3). No segmento infantil, a Riachuelo opera a marca norte-americana Carter’s no Brasil.

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A expansão de lojas da Riachuelo acontece no momento em que a empresa tem conseguido entregar resultados: no primeiro trimestre, o Ebitda (métrica de geração de caixa operacional) avançou no ritmo anual de 22%, como reflexo de uma cadeia integrada de produção e de um ecossistema que inclui ainda a financeira Midway, importante apoio nas vendas.

O CEO disse descartar um cenário de desaceleração no ritmo de crescimento de vendas ou de redução de margem devido devido à pressão macroeconômica sobre as contas do consumidor, como efeito das altas taxas de juros no país.

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“Tivemos o sétimo trimestre consecutivo de crescimento, o que mostra a consistência e o nosso foco. Temos feito isso com uma boa expansão da margem”, destacou Farber.

No primeiro trimestre, o grupo reportou a maior margem bruta de mercadorias (50,5%) dos últimos sete anos e o sexto trimestre consecutivo de expansão da margem bruta de vestuário (53,7%) na visão anual. Já a margem Ebitda (7%) foi a maior dos últimos nove anos para um primeiro trimestre.

“Crescer mais de dois pontos de margem de um ano para o outro não é fácil. Tivemos uma melhora muito robusta. As vendas das lojas maduras [mesmas lojas] cresceram 12,8% no trimestre”, disse o CEO.

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Expansão no número de lojas

Com mais de 420 lojas distribuídas pelo país, o grupo planeja novas aberturas neste ano, com um pipeline de oito unidades na Riachuelo. Em 2024, a marca teve só uma inauguração.

“Acreditamos que esse movimento ainda pode ser acelerado”, afirmou o CEO, que expressou confiança na retomada da expansão do parque de lojas.

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Quanto à Carter’s, o grupo deve abrir um total de oito novas unidades, número abaixo das 15 aberturas em 2024. Até maio, foram seis inaugurações de lojas da marca, sendo cinco no primeiro trimestre.

A presença no mercado de moda infantil por meio da parceria com a rede americana Carter’s é um dos diferenciais da atuação do Guararapes.

Essa perfomance foi obtida em um ambiente em que a Shein e outras plataformas asiáticas oferecem preços competitivos e produtos que acompanham as tendências da moda, o que desafia as empresas nacionais.

“Acreditamos muito no nosso modelo integrado, que representa uma vantagem competitiva e gera resultado sustentável, de longo prazo. A história recente prova que estamos no caminho certo”, avaliou o executivo.

Com uma fábrica de confecções de roupas em Natal, capital do Rio Grande do Norte, a empresa tem uma cadeia integrada que permite controlar todo o processo, desde a produção de insumos até a venda de produtos nas lojas, o que ajuda a manter a qualidade e a reduzir custos.

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Análise do sell-side

Os analistas do sell-side consideram que o Grupo Guararapes tem feito progressos tanto no varejo como nos serviços financeiros (Midway), com busca de melhoras de rentabilidade com foco na eficiência operacional e na gestão de risco.

A alavancagem financeira melhorou nos três primeiros meses do ano, com a relação dívida líquida/Ebitda em queda para 0,8x, contra 1,1x há um ano.

O grupo teve um Ebitda consolidado de R$ 258 milhões, recorde para um primeiro trimestre, com alta de 22% em 12 meses.

Houve redução de 36% na dívida bruta em um ano, para R$ 1,1 bilhão.

O prejuízo líquido consolidado caiu para R$ 27 milhões, uma redução de 77,2% em relação à perda de R$ 176 milhões um ano antes.

Em relatório, os analistas Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, do Santander, mantiveram a recomendação neutra para a ação do grupo com preço-alvo de R$ 8, após a divulgação do resultado trimestral no início de maio.

“As margens tiveram expansão porque a empresa aumentou a utilização da fábrica, reduziu os níveis de remarcação e aprimorou os algoritmos de precificação, apesar de despesas operacionais maiores do que o esperado”, escreveram.

As ações da Guararapes acumulam alta na casa de 45% no acumulado de 2025 e de cerca de 15% em 12 meses.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.